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Por Prof. Carlos Donisete de Oliveira - poeta e professor de História. Votorantim/SP
O Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, foi instituído oficialmente pela Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011, e faz referência à morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares que ficava entre os estados de Alagoas e Pernambuco. A representação do dia ganhou força a partir de 1978, quando surgiu o Movimento Negro Unificado no País, que transformou a data em nacional.
A escolha desse dia tornou-se mais importante que o próprio 13 de maio, abolição da escravatura, por se referir a luta e a resistência do negro à escravidão, e que depois de mais de três séculos, ainda sofre suas consequências, como a desigualdade social e o racismo.
Durante muito tempo difundiu-se a ideia de que nosso país vivia uma “democracia racial” e que a tal “miscigenação” foi uma benção. Na verdade, devemos entender que através da difusão dessas ideias, colocávamos a sujeira do racismo debaixo do tapete. Mas o racismo está aqui, cada vez mais vivo, forte e violento, batendo na gente todos os dias, em todos os lugares.
Mesmo com as estatísticas apontando que, aproximadamente, 56% da população se declara preta ou parda, muitos ainda não conseguem perceber sua própria identidade, mas sabem que existe algo de estranho e isso tem ligação com o fato de 4 milhões de africanos de várias etnias e regiões terem se transformado em peças de compra e venda e não seres humanos. Não sabemos quem somos nem de onde viemos.
Esse dia é muito importante para refletirmos quem somos e entender que a escravidão foi uma grande mazela, para que possamos, enfim, caminharmos rumo à democracia racial. A primeira coisa a se fazer é entender que o racismo existe e que mesmo existindo leis que garantem a igualdade entre os povos, é um fruto amargo de um processo histórico que modela a sociedade até hoje, e deve ser combatido.
Como as pessoas brancas podem nos ajudar?
Primeiramente é entender que existem privilégios (isso é doloroso as vezes), apoiar iniciativas empresarias que já estão modificando seus processos de seleção, deixar de usar expressões como “serviço de preto” e “denegrir”, educar as crianças para que respeitem as diferenças e principalmente entender que racismo é crime.
A partir do momento que todos mudarem suas mentalidades, discursos e ações, daí sim não teremos mais casos de entregadores de aplicativos humilhados, gerente negro de uma grande rede de lojas sendo subestimado de suas capacidades profissionais, e nós, os pretos, finalmente poderemos passear tranquilamente num shopping sem ser vigiados atentamente por seguranças.
Coluna publicada na página 17 da edição 391 da Gazeta de Votorantim de 20 a 27 de novembro de 2020