Num quarto de hospital em que seu pai está internado, jornalista é notificado para comparecer em reunião da Comissão de Ética que apura o caso dos docinhos da Câmara de Votorantim
Esta reportagem começará de uma forma diferente, provocando
uma reflexão ao leitor e, consequentemente, à população. Qual seria sua reação,
caso você estivesse acompanhando seu pai, com idade avançada, num leito
hospitalar, acometido por uma doença avaliada pela equipe médica como grave, e
uma pessoa, mais precisamente um servidor da Câmara de Votorantim a mando de um
presidente de uma Comissão de Ética, entrasse nesse quarto para lhe entregar um
ofício para simplesmente fazer um “convite” a prestar depoimento, apenas como
testemunha, num caso que envolve uma denúncia a um vereador acusado de suposta
compra de votos no processo de cassação, da qual você simplesmente noticiou o
fato, por ser jornalista. E se você já tivesse ressaltado a situação para outro
servidor, por telefone, mas, mesmo assim, o funcionário não respeita a situação
e toma tal atitude, dizendo que era para cumprir a ordem do presidente tal
comissão? Qual seria sua reação? Indignação, raiva, perplexidade?
Pois esse fato aconteceu na quarta-feira (28), e foi
exatamente essa a reação e que teve o jornalista e proprietário da Gazeta de
Votorantim, Werinton Kermes, ao vivenciar tal situação. Ele conta à reportagem
que há dias está acompanhando seu pai, em esquema de rodízio com irmãos, que
está internado em um hospital de Sorocaba, acometido por uma doença grave e
que, na quarta-feira (28) foi surpreendido pelo funcionário da Câmara que foi
até lá para notificá-lo a prestar depoimento no caso que envolve uma suposta
compra de votos que teriam ocorrido durante o processo de afastamento do então
presidente da Casa, Thiago Schiming (Novo), conhecido como o “caso dos
docinhos”. A denúncia veio à tona após a Gazeta de Votorantim divulgar dois
áudios atribuídos ao vereador Robson Vasco (PSDB). Nos áudios, há uma suposta
negociação de votos no Legislativo envolvendo o pagamento de “docinhos” para
dois vereadores em troca de votos favoráveis ao afastamento de Schiming.
Ainda segundo Kermes, um funcionário chegou a ligar para
ele, momentos antes de o outro servidor entrar no hospital e ir ao quarto em
que seu pai estava acamado. “Eu expliquei a ele toda a situação e pedi, por
favor, para que deixasse o documento na sede do jornal ou num horário em que eu
não estivesse no hospital e eu assinaria o protocolo, sem problema algum, uma
vez que não sou réu, aliás, somos nós, o jornal do qual sou proprietário quem
revelou esse suposto caso e que, inclusive o Ministério Público passou a
investigar”, disse e completou: “Não podemos deixar o quarto, sempre tem que
ter alguém. Agora pergunto: Porque o responsável pelo jornal que divulgou tem
que ser o primeiro a ser ouvido e não outros envolvidos diretamente no caso.
Nós só reproduzimos uma sonora, a partir de uma denúncia que nos chegou. E que,
após quatro meses que um morador pede à Mesa a abertura de investigação por
parte da Comissão de Ética e somente após o MP instaurar inquérito, decidem
apurar o caso. Ou seja, levaram quatro meses para realizar a primeira reunião
que envolve o caso e aí decidem vir me notificar, num quarto de hospital, onde
meu pai está acamado em estado grave. Não poderia ser outro horário, outro dia,
em outro local? Não poderia ser outra pessoa primeiramente e depois eu,
respeitando esse momento?”
Kermes contou que o servidor que foi notificá-lo disse que
não poderia ser outro dia. Kemes chegou a filmar a caso, da qual a reportagem
teve acesso e pode observar toda a cena, inclusive, com a presença de
enfermeiras no local. “É uma situação constrangedora e inadmissível. Uma total
falta de sensibilidade”, completou.
#foragazetadevotorantim
Apesar de Kermes não fazer qualquer comentário se entedia o
fato como uma suposta retaliação, a reportagem apurou que o presidente da
Comissão de Ética, o Pastor Lilo, fez uma postagem, no último dia 27, em que
faz críticas à Gazeta de Votorantim, usando inclusive a campanha nas redes
sociais “#foragazetadevotorantim”, isso quando ele tomou conhecimento de que o
jornal iria publicar uma reportagem sobre sua condenação a pagamento de multa
por propaganda política irregular a seu favor em um culto religioso. A postagem
do vereador inclusive teve comentário da prefeita Fabíola Alves (PSDB), na qual
chegou a dizer “Jornaleco ridículo e imoral”, apenas pelo simples fato de
noticiar fatos públicos.
O que dizem os presidentes da Comissão e da Casa
O presidente da Comissão de Ética da Câmara Municipal de
Votorantim, Pastor Lilo, ao ser questionado, disse, por meio de nota, que: “Em
nenhum momento o presidente da Comissão foi informado sobre a situação do pai
do senhor Werinton Kermes, sendo que este tem o contato pessoal do Pastor Lilo
e de seus assessores e em outras ocasiões já entrou em contato para tratar de
assuntos diversos. Além disso, a Gazeta assim como outros veículos de
comunicação, recebeu a informação de que a Comissão seria instaurada e que o
senhor Werinton seria o primeiro a ser ouvido. Como ele seria o primeiro
a ser ouvido pela comissão, e poderia nos trazer novas informações já que
realizou investigações jornalísticas sobre o caso, aguardávamos que ele pudesse
nos trazer mais informações e a partir daí faríamos um cronograma de oitivas.
Sendo assim, iremos propor uma nova data para que o senhor Werinton venha até a
Câmara Municipal. Diante dos fatos, estaremos em oração pelo pai e toda família
do senhor Werinton neste momento de dificuldade e convalescência. Ficamos
tocados pela situação e nos colocamos à disposição de toda família.”
Já o presidente da Câmara, Cirineu Barbosa, também ao ser
questionado, limitou-se a divulgar a seguinte nota: “O presidente da Câmara
Municipal, Cirineu Barbosa, informa que de acordo com o Artigo nº 13 da
Resolução nº3, de 23 de março de 1994, que trata do Regimento Interno da Câmara
Municipal de Votorantim, o Presidente não pode fazer parte de qualquer Comissão
Permanente ou Temporária. Sendo assim, no momento que tomou conhecimento sobre
o ocorrido, solicitou à Procuradoria Jurídica desta Casa de Leis, parecer
orientando quanto às medidas necessárias para que fatos como este não voltem a
ocorrer.”
Por Marcelo Andrade
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