Museu de Votorantim vive impasse em meio a ingerências políticas

O Museu Histórico de Votorantim “Ettore Marangoni”, prometido para ser entregue em 2023, teve seu oitavo adiamento anunciado na última semana. A nova previsão de conclusão da obra é para janeiro de 2026. Iniciada em dezembro de 2022, a revitalização do antigo prédio da Biblioteca João Kruger foi concebida para valorizar a arquitetura inglesa do século 19, presente na cidade desde o auge da indústria têxtil.
Apesar da importância cultural do projeto, a execução tem sido marcada por sucessivos erros técnicos e ingerência administrativa. Entre os problemas registrados estão a ausência de fundação adequada em parte da estrutura e espaço insuficiente para instalação do elevador no projeto original aprovado pela Prefeitura, o que comprometeu outras instalações do local, além da substituição do elevador por uma plataforma, problemas que resultaram nesses tantos adiamentos.
A obra, inicialmente orçada em R$ 529.221,65, passou a custar R$ 748.312,31 depois de tantos aditamentos, sendo custeada pelo Governo do Estado de São Paulo, por meio do programa Município de Interesse Turístico (MIT), que destinou R$ 456.206,10, com contrapartida da Prefeitura de Votorantim, que inicialmente seria no valor de R$ 73.015,55, mas já soma R$ 292.106,21.
Inicialmente, a proposta da gestão da ex-prefeita Fabíola Alves (PSDB) previa a revitalização completa do complexo Zeca Padeiro, que seria realizada em três fases: Fase 1: nova estrutura predial (nova sala e colocação de laje no prédio que abrigava a biblioteca) e revitalização interna com os recursos do MIT; Fase 2: revitalização completa do complexo Zeca Padeiro, incluindo a construção da nova fachada do museu, a base para uma máquina locomotiva e a vinda da locomotiva para exposição; Fase 3 (concomitante à fase 2): implantação da nova exposição do Museu.
No entanto, após o período eleitoral, a ex-prefeita cancelou duas fases do projeto, descumprindo a promessa feita à sociedade, cujo anúncio contou até com uma maquete eletrônica em formato 3D. Porém, sem a fachada, o museu não pode ser inaugurado.
Com o interior do prédio praticamente finalizado, mas sem fachada e sem recursos para concluí-la, a Prefeitura recorreu a uma medida polêmica: aprovou, em reunião extraordinária do Conselho Municipal de Política Cultural realizada na segunda-feira (14/07), o uso de R$ 115 mil provenientes do saldo arrecadado com a aplicação financeira do valor repassado pelo Governo Federal por meio do Programa Nacional Aldir Blanc (PNAB 1). O programa tem como objetivo principal fomentar a cultura, com foco no apoio a projetos e ações culturais. A verba, que poderia ser usada para atividades formativas, ou seja, cursos e oficinas, por exemplo, foi remanejada para a fachada do Museu de “supetão”, com a justificativa de evitar a devolução integral dos recursos ao Estado por não conclusão da obra. Esse valor irá custear um reboco e uma pintura simples. Não haverá mais a fachada em alusão a uma técnica de construção, ao patrimônio histórico local e regional, que ela própria seria um atrativo turístico, além de integrar o acervo.
A falta de orçamento para a fachada escancara os efeitos colaterais do Decreto nº 7.913, de 8 de maio de 2025, assinado pelo prefeito Weber Manga (Republicanos), que transferiu R$ 9,6 milhões de diversas secretarias para a pasta da Educação. Dentre os cortes, mais de R$ 250 mil foram retirados do setor de Turismo, esvaziando o caixa da pasta. Entre os valores suprimidos, estavam recursos fundamentais para o funcionamento do próprio museu, como a aquisição de equipamentos, manutenção, estruturação e contratação de funcionários e vigilância.
Agora, sem mobiliário, sem segurança patrimonial e ainda sem previsão de conclusão da fachada, o risco é não conseguir inaugurar o museu, mesmo com a obra avançada. A transposição de recursos pode evitar um prejuízo imediato, mas traz uma reflexão incômoda e necessária: quantas vezes mais a Cultura e o Turismo terão de ser sacrificados para cobrir falhas sucessivas de gestão, passadas e presentes?
Por Luciana Lopez
Foto: Lucas Terra
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