Pioneira na produção de ‘bebês reborn’ em Votorantim conta sua experiência

Ivana Santana
Você sabe o que são “bebês reborn”? São bonecas de bebês muito realistas, que imitam de forma muito fiel os traços humanos. Em Votorantim, a pioneira a produzir essas bonecas foi a locutora, jornalista, apresentadora da TV Votorantim e cuidadora de idosos Valquíria Teixeira, que mora no Rio Acima. A cegonha (termo usado para designar quem produz os bebês reborn), começou a fazer as bonecas no final do ano passado. Mas o amor por bonecas começou cedo.
“Quando eu era criança, minha mãe nunca pode me dar uma boneca. E eu era encantada por boneca. Mas aí minha mãe um dia me falou: ‘Filha, eu vou ser bem dura com você: ou você come ou você tem a boneca”, lembra, emocionada.
Valquíria tem um filho, atualmente com 22 anos. Mas nunca teve filhas mulheres. “Alguns anos atrás minha mãe ficou muito doente, teve depressão e veio morar comigo. E eu comecei a cuidar dela. Ela virou praticamente minha filha. E eu comecei a cuidar dela como minha filha mesmo. Eu amarrava chuquinha no cabelo dela, brincava de trenzinho para a fazer ir tomar banho, ela virou uma criança mesmo. Hoje ela já faleceu. E depois que ela foi embora, ficou um vazio em mim. Eu queria alguma coisa para me apegar. Eu queria uma menina, eu tinha necessidade de cuidar de uma menina. E voltou a minha vontade de ter bonecas. Aí eu conheci o mundo dos bebês reborn pela internet”, explica.
A princípio, o sonho de Valquíria foi apenas comprar um bebê reborn, em 2007. Na época, segundo ela, uma dessas bonecas custava em torno de R$ 4 mil e ela não tinha condições de comprar. “Depois de quase um ano querendo essas bonecas, eu peguei algumas de uma mulher que fazia para revender em Votorantim. Eu conhecia a mulher só pela internet. E aí eu vendi essas quatro e consegui comprar uma para mim, que ela me vendeu com desconto”, destaca.
O desejo de produzir os “bebês”
Os anos se passaram e Valquíria começou a apresentar um programa na TV Votorantim, entrevistando semanalmente convidados diversos. Em mais de uma ocasião, ela trouxe outras cegonhas para entrevistar. Até que uma das cegonhas, que Valquíria entrevistou em dezembro do ano passado, a deixou com vontade de não apenas ter os bebês reborn, mas de produzi-los. Mas, para aprender a arte e virar cegonha, ela precisaria fazer o curso, que segundo ela, custa em média R$ 2.500,00.
“Eu não tinha condições de fazer o curso, é caro. E o curso só tem em São Paulo. Aí eu comecei a pesquisar e fiquei amiga de uma mulher de São Paulo que fazia os bebês reborn. E ela me chamou para ir na casa dela e disse que iria me ensinar a fazer. Daí eu juntei um dinheirinho, comprei todo o kit com o material, as tintas, e ela me ajudou a aprender fazer. Fiquei o dia todo na casa dela aprendendo. E eu fiquei tão focada naquilo que no outro dia eu já estava montando meu bebê reborn. Tem cursos por aí de até um mês de duração para aprender a montar essas bonecas”, explica.
Ao entrar no mundo dos bebês reborn, Valquíria conheceu muita gente em grupos em eventos. Uma mulher decidiu, então, a presentear com o curso completo, com aulas online. “Depois de fazer o curso eu fiquei mais focada ainda. Trabalhava até 3h da manhã nas bonecas. Aí eu juntei R$ 3 mil e pensei: ‘agora é hora de eu começar o meu negócio”, comenta.
De acordo com Valquíria, ela gasta em média R$ 600,00 com materiais para montar uma boneca. Ela realiza a venda por cerca de R$ 800,00 a R$ 1.000,00. “O lucro quase não existe. Então, tem que fazer por paixão mesmo. E eu tenho que vender mais barato que as lojas, né? Em lojas de brinquedo no centro de Sorocaba vi por cerca de R$ 1.500,00. Em shoppings vai de R$ 2.800,00 a R$ 3.800,00”, frisa.
Produção feita em casa
“Para fazer um bebê reborn tem que comprar um kit com cabeça, braços e pernas, também tem que comprar o corpo, os olhos, o cabelo, as tintas, verniz. O material principal dos kits é vinil siliconizado. Aí no processo para fazer a bebê reborn eu faço a higienização desse material, depois passo um produto, depois vai para a selagem, depois seca, depois passa uma ‘pele’, depois deixa selar de novo, aí corto as rebarbas, preparo o olho, faço o implante de cílios, coloco peso, coloco imã para chupeta na boca, coloco cabelo... É trabalhoso. Faço tudo isso no meu quarto”, explica. Para produzir um bebê reborn, a cegonha leva cerca de oito dias.
Bonecas são tão realistas que confundiram policiais
Valquíria diz que quando anda com as bonecas na rua, as pessoas admiram e até confundem com bebês de verdade. Um dia, inclusive, ela foi até denunciada por “maus tratos de bebê”.
“Um dia desses, estava muito frio, e eu estava no portão de casa mostrando um bebê reborn para uma amiga. E a boneca estava com um vestidinho bem levinho, sem manga nem nada. Um vizinho chamou a polícia. Quando eles chegaram, falaram que me denunciaram por maus tratos de criança. O policial pediu para ver ‘o bebê’ e eu trouxe no colo. Ele me xingou, perguntou como eu tinha coragem de deixar uma criança passando frio. Aí eu falei que ia pegar uma roupa lá dentro e pedi para o policial segurar ‘o bebê’ para mim. Quando ele pegou no colo e percebeu que era uma boneca, ele deu um grito de susto! Aí depois que passou o estresse ele até pediu para tirar foto com a boneca”, lembra.
Berçário
Agora, a meta de Valquíria é abrir um “berçário” com os bebês reborn. “Vai ser tipo uma vitrine para as pessoas interessadas em comprar, elas podem agendar uma visita comigo e ver, pegar na mão, encomendar e até comprar uma das que já estão prontas. Também é possível fazer réplicas de bebês, faço a partir de uma foto. Não é 100% igual, para fazer igual só Deus, mas fica bem parecido, eu trabalho toda a expressão facial e corporal no bebê reborn”, conta. Para agendar uma visita ou encomendar uma boneca, é só entrar em contato com Valquíria pelo telefone/WhatsApp (15) 99737-3880. 99662-1560 (número novo, atualizado em 16/07/20)
“Eu amo demais trabalhar com os bebês reborn. Eu fico encantada vendo os kits, comprando os materiais. E quando eu termino a boneca eu falo ‘meu Deus, como eu consegui fazer essa coisa linda?’. Mas eu ainda tenho muito para melhorar. É preciso sempre evoluir”, conclui.
Reportagem publicada na página 06 da edição nº321, do jornal Gazeta de Votorantim, de 15 a 20 de junho de 2019.
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