Ochelsis Laureano: de aluno de Heitor Villa-Lobos a amigo de Cornélio Pires, o votorantinense autor de 'Marvada Pinga'

Votorantim, cidade marcada por sua tradição e cultura, tem entre seus filhos ilustres um nome que não dá nome a rua, praça e muito menos a escola de música ou espaço cultura na cidade em que nasceu, apesar de ter sido ele que ajudou a moldar a música caipira brasileira: Ochelsis Aguiar Laureano.
Nascido em 1º de maio de 1909, quando a cidade ainda era um distrito de Sorocaba, ele se destacou como violeiro, compositor e cantor, deixando um legado inestimável para a cultura nacional. Seu talento atravessou gerações e permanece vivo especialmente por meio de seu maior sucesso, "Marvada Pinga", eternizado na voz de Inezita Barroso.
Desde cedo, Laureano demonstrou habilidade excepcional para a viola e a composição. Nos anos 1930, participou das Caravanas de Cornélio Pires, movimento fundamental para a popularização da música caipira no Brasil. Com o crescimento da indústria fonográfica e a expansão do rádio, tornou-se um nome respeitado nos principais programas sertanejos de São Paulo e Rio de Janeiro.
Ao longo da carreira, formou diversas parcerias de sucesso, incluindo as duplas "Irmãos Laureano", "Laureano e Soares" e "Laureano e Mariano", esta última ao lado de Mariano da Silva, pai do renomado músico Caçulinha. Além disso, integrou trios e grupos musicais, consolidando-se como uma das figuras mais importantes do gênero caipira.
O talento de Laureano não se restringia ao universo sertanejo. Com estudos na Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro, sob a orientação do maestro Heitor Villa-Lobos, expandiu sua atuação para a composição de músicas sacras, regência de coral e poesia. Seu repertório inclui canções marcantes como "Roseira Branca", "O Balão Subiu" e "Meu Sertão", além de letras que retratam com fidelidade a vida e os costumes do interior paulista.
A contribuição de Laureano foi reconhecida além dos palcos. Durante sua vida, dedicou-se ao ensino da música, lecionando em diversas cidades e recebendo o título de cidadão bauruense. Sua influência musical se estendeu também para a música evangélica, onde atuou como professor de canto coral e ensaiador de corais em igrejas de várias regiões do país.
Apesar de sua relevância para a cultura brasileira, Ochelsis Laureano ainda não recebeu o devido reconhecimento em Votorantim. Um dos maiores violeiros e compositores do Brasil segue pouco lembrado na cidade que o viu nascer.
A ausência de tributos a um artista tão importante contrasta com seu impacto na história da música caipira. Falta à cidade um festival de viola em sua homenagem ou um espaço público que perpetue sua memória. Ochelsis Laureano foi muito mais do que um músico: foi um embaixador da cultura caipira, cuja obra merece ser preservada e celebrada.
Que Votorantim valorize seu filho ilustre e ajude a manter sua história viva.
Por Werinton Kermes
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