Editorial – Por que optamos por não noticiar o ocorrido na SESP

Na tarde do último sábado (20), a redação da Gazeta de
Votorantim e da TV Votorantim passou a receber, de remetentes diferentes,
vídeos de um episódio envolvendo uma reeducanda no pátio da Secretaria de
Serviços Públicos (SESP). O fato ocorreu após a hora do almoço.
Segundo relatos, a reeducanda que presta serviços na SESP,
sofreu um surto, aparentemente desencadeado pelo uso de álcool ou substâncias
entorpecentes. A situação foi registrada por celulares e rapidamente ganhou
repercussão. Diante disso, nossa equipe editorial foi questionada por não
noticiar o episódio.
Optamos por não fazê-lo. E explicamos por quê.
A pessoa envolvida está em cumprimento de pena e, segundo
informações colhidas junto a colegas de trabalho e fontes da área social, e
apresenta sinais evidentes de fragilidade psíquica. Expor publicamente essa
situação seria, além de desumano, uma forma de aplicar sobre ela uma nova
sentença: a do julgamento público.
Além disso, a identidade de gênero da pessoa — transexual —
foi mencionada em muitos dos comentários de forma preconceituosa e cruel. Este
tipo de exposição não contribui para o debate público e apenas alimenta a
marginalização de quem já vive à margem.
A imprensa tem o dever de informar, mas também tem a
responsabilidade de proteger. Nosso compromisso é com o jornalismo que
constrói, e não com o sensacionalismo que destrói. A publicação desse episódio,
mesmo diante do material recebido, não traria informação de interesse coletivo
— apenas estimularia a curiosidade mórbida e a intolerância.
Seguiremos pautando nosso trabalho com ética, empatia e
responsabilidade social. Isso também é jornalismo.
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