Coluna Cerca-lourenço

Um trabalho investigativo realizado pela equipe de jornalismo da TV TEM tem movimentado os bastidores políticos e administrativos de Votorantim. A apuração conduzida pelo jornalista Wilson Gonçalves Júnior, pelo produtor Matheus Arruda e pela jornalista Letícia Paris revelou indícios de irregularidades em contratos milionários da Prefeitura na área da educação, envolvendo as empresas CB News e Global Atacadista.

Segundo a investigação, a CB News, responsável pelo fornecimento dos novos uniformes escolares em contrato de R$ 7,6 milhões, e a Global Atacadista, contratada para a entrega de alimentos às escolas em acordo de R$ 3,4 milhões, apresentam inconsistências nos registros da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp). A reportagem identificou endereços divergentes, dados contraditórios e indícios de uso de “laranjas” para encobrir os verdadeiros proprietários.

Um dos pontos que mais chamaram a atenção foi o contraste entre o faturamento milionário e o estilo de vida das empresárias. Nadyla Torres de Almeida, dona da CB News, vive em condições simples em Diadema e não se apresenta como empresária em suas redes sociais. Já Camila Souza Costa, ex-proprietária da CB News e hoje à frente da Global Atacadista, é beneficiária do programa Bolsa Família, recebendo mensalmente R$ 750, mesmo após assumir uma empresa com contratos de milhões de reais.

De acordo com os dados levantados, juntas as duas empresas firmaram mais de 60 contratos com prefeituras paulistas desde 2021, somando R$ 90 milhões em recursos públicos.

Repercussão e órgãos de controle

O Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP) já havia suspendido o pagamento do contrato dos uniformes escolares por suspeita de irregularidades. Famílias de alunos da rede municipal também relataram problemas de qualidade nas peças entregues, como calças com defeitos e tênis danificados poucos dias após o uso.

Na reportagem, exibida na última quinta-feira (28), o procurador de Justiça Roberto Livianu, presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, afirmou que os indícios revelados pela TV TEM podem caracterizar o uso de “laranjas”. Segundo ele, a prática é comum em casos de superfaturamento e lavagem de dinheiro. “É estarrecedor que uma empresa com esse faturamento tenha como sócia alguém cuja condição de vida não condiz com os números. É sinal claro de que algo precisa ser investigado”, afirmou.

A Prefeitura de Votorantim, por sua vez, declarou que os contratos seguem a legislação e que desconhece irregularidades. Sobre os uniformes, afirmou que o índice de trocas foi de apenas 0,3% das 131.964 peças entregues, alegando que os kits tiveram 99,7% de aprovação no sistema municipal de ensino.

Possível repercussão nacional

Nos bastidores do meio jornalístico regional, a expectativa é de que a reportagem da TV TEM ultrapasse os limites locais e estaduais. Fontes ouvidas acreditam que o caso deve ganhar espaço na rede nacional da TV Globo, podendo ser exibido no Fantástico, principal programa de jornalismo investigativo da emissora aos domingos.

Se confirmada, a veiculação nacional reforçará a relevância do trabalho da equipe da TV TEM, que mais uma vez cumpre o papel essencial de dar visibilidade a possíveis irregularidades na gestão pública, defendendo o interesse da população e a transparência no uso de recursos públicos.

O que está em jogo

A investigação levanta não apenas dúvidas sobre a regularidade de contratos milionários em Votorantim, mas também reacende um debate sobre os mecanismos de fiscalização e transparência das administrações municipais. A presença de possíveis “laranjas” no comando de empresas que recebem recursos públicos, apontada por especialistas, pode abrir caminho para uma atuação mais firme do Ministério Público e dos órgãos de controle.

Fotos: Reprodução TV TEM