
Com mais de quatro décadas dedicadas ao fotojornalismo, Agostinho Setti construiu uma carreira marcada pela sensibilidade de enxergar o que, muitas vezes, passa despercebido aos olhos comuns. Hoje aposentado, o fotógrafo mantém a câmera como companheira inseparável e a fotografia como sua principal forma de expressão.
Foi assim, atento aos detalhes do cotidiano, que Setti se deparou recentemente com uma cena aparentemente simples em seu próprio jardim: um casal de joão-de-barro recolhendo argila úmida. A curiosidade jornalística e o olhar treinado do fotógrafo falaram mais alto. Ele decidiu acompanhar o voo das aves para descobrir o destino daquele barro recolhido.
A investigação o levou a um cenário improvável: uma pequena casa em início de construção, a cerca de cinco metros de altura, erguida ao lado de um transmissor de alta tensão, no cruzamento da rua Guido Mencacci com a rua Carolina Pettan Borghesi, no Jardim Astro, em Sorocaba.
Daquele momento em diante, a rotina de Setti mudou. Durante 30 dias, entre 25 de julho e 25 de agosto, ele se dedicou de seis a oito horas diárias ao registro minucioso do vai e vem do casal de pássaros, que com perseverança e habilidade ergueu o ninho de barro. O resultado de tamanha dedicação foi um acervo de 3.022 imagens, que eternizam não apenas o processo de construção do lar das aves, mas também a essência do olhar jornalístico: transformar o comum em extraordinário.
Mesmo aposentado, Agostinho Setti mostra que a fotografia não é apenas profissão, mas destino. É através da lente que ele continua revelando histórias, traduzindo em imagens aquilo que a pressa da vida urbana insiste em esconder.
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