Coluna Gestão em Pauta - Minha experiência na gestão pública: aprendizados e reflexões

Por Rodrigo Criguer*
Em 2021 tive a oportunidade de assumir a Diretoria de Recursos Humanos da Prefeitura de Votorantim. Depois de mais de 23 anos atuando no setor privado, mergulhar no setor público foi uma experiência nova e enriquecedora, que trouxe aprendizados importantes e também alguns choques de realidade.
Logo de início, percebi como a gestão pública ainda caminha em passos lentos quando o assunto é eficiência administrativa. Processos engessados, legislações ultrapassadas e uma estrutura burocrática que, muitas vezes, atrapalha mais do que ajuda. Essa lentidão não está ligada à falta de vontade das pessoas, mas sim a um sistema que parece ter parado no tempo.
Confesso que carregava um julgamento equivocado: acreditava que o servidor público não gostava de trabalhar. No entanto, vivendo o dia a dia ao lado deles, percebi o contrário. O que encontrei foram profissionais comprometidos, dispostos a servir e a entregar o seu melhor. Claro, como em qualquer ambiente público ou privado, existem exceções. Mas o que prevalece é a dedicação.
O grande desafio, portanto, não está nas pessoas, mas no sistema. É preciso um trabalho de médio e longo prazo para revisar leis, decretos e, principalmente, o estatuto dos servidores públicos. Também é urgente atualizar a descrição dos cargos, hoje defasada e muitas vezes desconectada da realidade, além de estabelecer de forma clara uma matriz de responsabilidades, que organize atribuições e evite sobreposições ou lacunas.
Outro ponto essencial está nos cargos comissionados, escolhidos pelo executivo. Eles não podem ser apenas ocupantes de funções remuneradas; precisam atuar de fato, lado a lado com os servidores municipais, buscando soluções, implementando melhorias e ajudando a transformar a gestão. É preciso deixar de lado a politicagem e os interesses particulares e assumir o compromisso de servir à população, que é quem realmente sustenta o sistema.
Se quisermos resultados diferentes, precisamos cuidar das causas e não apenas dos efeitos. Enquanto a gestão pública permanecer presa a um modelo ultrapassado, continuaremos a conviver com processos lentos, desperdício de recursos e baixa produtividade. Valorizar o servidor público é essencial, mas isso precisa vir acompanhado de mudanças estruturais que deem condições para que ele exerça plenamente sua função de servir a comunidade.
Minha passagem pela prefeitura reforçou essa convicção: o problema não está nas pessoas, mas no sistema. E, se queremos transformar a realidade, é exatamente aí que devemos atuar.
*Rodrigo Criguer é Consultor em Liderança e Gestão de Processos Industriais
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